sábado, 19 de abril de 2008

ENTREVISTA: ALFREDO BERTINI


"Hoje a gente percebe que o cinema pernambucano está na vanguarda, basta para isso ver as conquistas nacionais e internacionais"



Idealizador do Cine PE Festival do Audivisual, Alfredo Bertini concedeu entrevista ao Blog da Sexta, depoimento onde relembra a criação do evento e ratifica a importância do mesmo - um dos principais festivais do país, considerado o de maior público.
Como surgiu a idéia de fazer um festival de cinema na cidade do recife?

Estava como secretário adjunto de indústria, comércio e turismo, no governo de Joaquim Francisco, quando tive contato com o setor cinematográfico. Comecei a entender o sentido econômico, o contexto da "indústria", para o qual o audiovisual como um todo já dava sinais de fortalecimento. Assim, inspirado naquela oportunidade pelo sucesso do Festival de Gramado, senti que havia espaço para se trabalhar algo semelhante, não só observando o caso pelo aspecto turístico (muito forte em Gramado), já que a cultura e a história audiovisual de Pernambuco tinham expressão suficiente para absorver a idéia. Um pouco mais de toda essa história está no livro anterior que escrevi pelos 10 anos do evento: Quando o caso é de Cinema, a paixão é um Festival.



Como você vê a evolução do cinema pernambucano? E qual a contribuição do Cine PE?

O Festival e o novo cinema pernambucano são também frutos da aposta que se fez na retomada da produção brasileira. Há uma simultaneidade não planejada nessa história, posto que os fatos marcharam para essa direção. É claro que a história do cinema pernambucano e a própria riqueza cultural da nossa terra também exerceram influências. Hoje a gente percebe que o cinema pernambucano está na vanguarda, basta para isso ver as conquistas nacionais e internacionais. E o festival, por sua vez, ocupando um espaço privilegiado no cenário brasileiro, considerado aquele que mais leva público e um dos mais respeitados do país, apesar de sua juventude. E certamente que o Cine PE hoje já representa uma vitrine de interesse, não só para os novos talentos da terra, como para os cineastas de todo Brasil.

Qual o espaço reservado aos filmes pernambucanos no Cine PE?

É um festival de reconhecimento e dimensão nacional. E, nessa condição, não deve perder de vista seu compromisso com a diversidade cultural expressa pelos quadrantes do país. Assim, os filmes da terra passam pelo crivo do processo seletivo, muito embora seja sempre bem vista a presença da produção local, desde que exprima uma qualidade compatível com a referência hoje conquistada pelo Cine PE. Todavia, como a produção cresceu além das expectativas, esta edição de 2008 apresenta uma de suas novidades: a Mostra Pernambuco. Trata-se dos filmes que obtiveram qualificações junto às comissões de seleção e que precisam compor essa janela nova de exibição. Estamos, para esse fim, tentando uma premiação extra em dinheiro como estímulo. Mas, se não der para este ano, a semente já se encontra plantada pata as próximas edições.

Alguma outra novidade para este ano?

Apesar do modelo estrutural ser o mesmo, a cada ano são incorporadas inovações. Isso passa pela linguagem de comunicação, assim como por tarefas de conteúdo programático, propriamente dito. Neste particular, por exemplo, além da primeira edição da Mostra Pernambuco, pela primeira vez a itinerância das exibições é deslocada para Porto de Galinhas. Trata-se de um esforço novo na direção de agregar um importante valor cultural ao mais badalado destino turístico de Pernambuco. Tudo na defesa de um padrão de entretenimento que expresse a importância da preservação e valorização das identidades.

Pode explicar um pouco mais o processo de seleção dos filmes exibidos no festival?

O Cine PE opera com o modelo tradicional das comissões de seleção, que se reclusam por uma semana, justamente para efetivar a difícil missão de escolher os filmes que estarão na grade competitiva. Como a acada ano o volume de inscritos tem aumentado consideravelmente, esse trabalho se revela como um dos mais árduos. Por exemplo, para amenizar a carga de tantos filmes (foram mais de 70 longas), adotamos neste ano, para o caso dos longas-metragens, um ponto de corte em cima da questão do ineditismo, mas sem perder de vista o padrão de qualidade do festival.



Como você observa a consolidação do Cine PE no circuito de cinema do país?

Como mero resultado de muito trabalho e dedicação, sobretudo, de uma equipe que se mostra cada vez mais apaixonada pela causa que abraçou. Por toda essa engrenagem para funcionar, não é uma tarefa de produção simples, pois envolve diversos setores. A cadeia produtiva do Cine PE representa um emaranhado bem expressivo, posto que envolve centenas de pessoas, direta e indiretamente comprometidas. São 10 meses de trabalho constante, que tem seu ápice nervoso justo na semana de referência do evento. Com todo esse esforço concentrado, o resultado é que o Cine Pe, em tão pouco tempo, conquistou um espaço nobre na galeria dos grandes festivais. Afinal, ele representa o que há de maior em termos de platéia (são 3 mil pessoas por sessão), goza de prestígio e possui uma significativa reverberação na mídia.

Qual sua análise sobre o investimento na área do audiovisual?

Ele é uma atividade econômica que exige inversões grandiosas. Por essa razão, a demanda por recursos para o setor nem sempre é entendida de modo adequado, haja vista o baixo entendimento com relação ao seu porte. Já ocorreram alguns avanços em termos de políticas públicas nas três esferas, mas ainda é preciso esse entendimento da ordem de grandeza do setor, visto pelo impacto sócio-econômico (na geração de empregos e rendas) e pelo seu poder midiático. [confira a programação do Cine PE]


A entrevista foi realizada por André Lucena, Branca Alves, Léo Leite, Manuela Clericuzi e Rafael Montenegro, estudantes de Comunicação Social e produtores do Opinião Pernambuco.

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