sexta-feira, 9 de maio de 2008

ODE À MISÉRIA CORRIGIDA


Com a ajuda do Fernando Neto, telespectador do Opinião e internauta sempre atento, finalmente vamos postar o texto corrigido do Manuel Tavares, Ode à Miséria, lido por Walmir Chagas no ar.




Hoje não cantarei o Recife de Manuel Bandeira
Da lira e das bandeiras liberais;
O Recife do "chicote queimado" da Rua da União
Do "coelho sai-não sai"
Hoje cantarei o Recife das mulheres da vida
E desses homens marginais
O Recife dos loucos, que estendem a mão e riem de si mesmos
Como se fossem seres tão normais.

Hoje cantarei o Recife dos heróis sem glórias e sem nomes
Cuja lista daria, tranquilamente,
Pra encher as estantes da Academia de Londres
Sim, hoje cantarei o Recife dos mangues, das palafitas,
Das crianças exangues,
Que teimam em existir.
O Recife das crianças que andam sobre a lama em busca de siri.

Hoje cantarei o Recife do "É melhor partir"

"Mamãe, acho que vou pro Rio de Janeiro
Porque lá não tem um rio que fede como este aqui"!
Mas o rio Capibaribe não escuta,
Porque está preocupado em molhar a várzea
Pra desovar a miséria. O Recife é coisa séria!
Às vezes esquisito, às vezes esquistossomose.
E enquanto um delira, o outro morre
Sem saber do quê, por quê e para quê.
E lá no Bar Savoy, tantos de porre!
Lá no Bar Savoy, onde o poeta Carlos Pena nunca disse:
"Recife, eu tenho pena de você".

Hoje não cantarei o Recife das pontes, nem da Família Pontes;
Nem dos Vieira, nem dos Freire, nem dos Bandeira.
Cantarei o Recife das pontes entre a miséria do ser e do não ser.
Hoje cantarei o Recife dos mendigos,
Desses artistas de circo, que saltam do trapézio pra morrer.

Hoje cantarei o Recife das igrejas , da erva, do porre e do xixi
Mas não cantarei o Recife do Cinema Moderno**, de terno,
Pois o filme real dessa cidade não passa alí.
Mesmo assim, eu não vou para Pasárgada!
EU QUERO É FICAR AQUI!!!

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