por Cristhiano Aguiar
Que formas podem tomar a interlocução entre escritores e críticos? Quais os possíveis atritos surgidos a partir daí? Pensar de que maneira adultos (às vezes, nem tão adultos) lidam com o vínculo afetivo que estabelecem com suas criações literárias e argumentações críticas parece ser um importante aspecto deste tópico.
Infelizmente, falar de “afeto”, ou “maturidade”, foge dos meus próprios pressupostos teóricos. Também não sei se estas questões interessam ao estudo da literatura, no final das contas, a não ser como curiosidades ou croniquetas, como a deste post e do anterior [ver observação ao final deste texto].
Escrevi um artigo sobre um jovem romancista, que obteve muito destaque na imprensa. O autor tem muito potencial, mas me parece ainda necessitar de amadurecimento. Por isso, fiz algumas ressalvas quanto ao romance que eu estudava no artigo. Decidi fazer o que muitos críticos e pesquisadores não fazem: mandei o texto para o autor. Ele me respondeu, agradecendo, comentando e elogiando a minha leitura.
Aqui, quero chamar a atenção de vocês para uma questão. Até que ponto seria importante enviar o texto ao autor sobre o qual se escreve? Se a intenção não é só fazer uma certa política literária, por que enviar, então? Neste gesto se procura, por exemplo, algum tipo de chancela à própria leitura crítica?
Com estes questionamentos, não quero dizer que enviar um texto para um autor seja uma prática espúria. Muito pelo contrário. Entretanto, antes de apertar o botão “enviar” do nosso e-mail, considero saudável uma pausa.
No fim das contas, a pergunta surgirá: “pra que crítica?”; que se desdobrará em “por que este texto que leio?”. Hoje, não creio que tudo que escrevemos sobre o poeta ou contista Y deva ser enviado para ele. Um diálogo bom é um diálogo com propósito.
Qual foi o resultado do envio daquele artigo? Algum tempo depois, o autor, que tem um blog, fez várias indiretas irônicas contra meu texto. Uma coisa bem mal-humorada, mesmo. Além disso, em seguida, o texto dele caiu no velho clichê de “não me importo com o que a academia diz, etc”.
Continuo gostando da obra deste escritor. Embora considere o seu livro mais recente fraco, já li uns trechos do seu romance novo (que ainda será publicado) e me pareceu bem interessante. Mas confesso que, nos instantes nos quais, dentro ou fora da universidade, me questionam como posso gostar da obra deste romancista, continuo acentuando qualidades e ressalvas, porém não com a mesma empolgação de antes.
Cristhiano Aguiar é escritor, crítico e mestrando em Teoria da Literatura (UFPE). Este texto foi originalmente publicado no blog da Revista Crispim, como continuação de um post anterior. Confiram!
sábado, 19 de abril de 2008
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